Encontrei uma preta
que estava a chorar,
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.
.
Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.
.
Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.
.
Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.
.
Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:
.
nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.
.
António Gedeão, in Máquina de Fogo, 1959
Grande escolha este poema de António Gedeão.
ResponderEliminarÉ um dos muitos exemplos que apesar de sermos todos difrentes, no fundo, somos todos iguais!
Já tive a experiência de ler este "Lagrima de Preta" num recital de poesia e adorei... Só quando trabalhamos o poema é que notamos o seu verdadeiro valor e significado!
Parabéns pelo blog :)
Esta sequência de belas palavras, cantadas, declamadas ou simplesmente ditas, são certamente um marco na nossa poesia e na música. Penso, ouço, recordo e gosto muito, muito...
ResponderEliminarJoão Paulo Silva disse:
ResponderEliminarAdoro este poema, pois este no fundo diz que as pessoas de todo o mundo são todos iguais...
Parabens pelo blog! :)
Boa escolha :) Este poema é realmente muito bonito e o facto da existência de rima entre os versos enriquece e torna ainda mais bonito e expressivo o poema.
ResponderEliminarEste poema mostra-nos que ao mesmo tempo somos todos diferentes mas também todos iguais; Não é a raça , a cor , a cultura que nos vai diferenciar , apenas importa o facto de sermos pessoas , de sermos SERES HUMANOS (:
Sara Pinto
Talvez o poema mais bonito de António Gedeão! Mostra na perfeição que somos TODOS iguais: não é a cor ou a raça que nos distingue uns dos outros, isto é, somos todos diferentes, mas em simultâneo, todos iguais. Somos diferentes porque cada um de nós é uma pessoa única e singular, dotado de uma personalidade irrepetivel e que nos distingue de todos os outros nossos semelhantes. Mas, ao mesmo tempo, esta diferença não superioriza ninguém, muito pelo contrário, só nos une. Somos "feitos" do mesmo material e tudo o que temos cá dentro é igual em todos os seres humanos. E é essa mensagem que é fundamental reter. A diferença é muito positiva, enriquece-nos! Temos que olhar para ela assim, procurando percebe-la e crescer! :)
ResponderEliminarSomos todos iguais na diferença que nos une...
Tendo em conta o desenvolvimento do poema o seu tema e – uma condenação ao racismo , podemos facilmente supor que o referido choro estará a representar a tristeza que a mulher sentiu, ou sente ainda, por ter sido vítima de discriminação racial, com este poema, António Gedeão mostra se contra o racismo, demonstrando a estupidez e a falsidade que estão na base dos preconceitos.
ResponderEliminarEste é um dos meus poemas preferidos!
ResponderEliminar"Nem sinais de negro/Nem vestígios de ódio" é a minha passagem preferida, pois demonstra perfeitamente como as pessoas são todas iguais, independentemente da cor ou raça.
Num mundo repleto de liberdades, penso que o racismo deveria ser um assunto extinto e não um preconceito. Mas as pessoas orgulham-se de odiarem o outro! Este poema é um grito de revolta contra esse orgulho, esse perconceito que parece infinito!
Todos nós somos iguais e merecemos ser tratados de igual forma, com respeito!