sábado, 1 de maio de 2010

Lágrima de Preta



Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.
.
Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.
.
Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.
.
Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.
.
Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:
.
nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.
.
António Gedeão, in Máquina de Fogo, 1959





7 comentários:

  1. Grande escolha este poema de António Gedeão.
    É um dos muitos exemplos que apesar de sermos todos difrentes, no fundo, somos todos iguais!
    Já tive a experiência de ler este "Lagrima de Preta" num recital de poesia e adorei... Só quando trabalhamos o poema é que notamos o seu verdadeiro valor e significado!

    Parabéns pelo blog :)

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  2. Esta sequência de belas palavras, cantadas, declamadas ou simplesmente ditas, são certamente um marco na nossa poesia e na música. Penso, ouço, recordo e gosto muito, muito...

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  3. João Paulo Silva disse:

    Adoro este poema, pois este no fundo diz que as pessoas de todo o mundo são todos iguais...

    Parabens pelo blog! :)

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  4. Boa escolha :) Este poema é realmente muito bonito e o facto da existência de rima entre os versos enriquece e torna ainda mais bonito e expressivo o poema.
    Este poema mostra-nos que ao mesmo tempo somos todos diferentes mas também todos iguais; Não é a raça , a cor , a cultura que nos vai diferenciar , apenas importa o facto de sermos pessoas , de sermos SERES HUMANOS (:

    Sara Pinto

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  5. Talvez o poema mais bonito de António Gedeão! Mostra na perfeição que somos TODOS iguais: não é a cor ou a raça que nos distingue uns dos outros, isto é, somos todos diferentes, mas em simultâneo, todos iguais. Somos diferentes porque cada um de nós é uma pessoa única e singular, dotado de uma personalidade irrepetivel e que nos distingue de todos os outros nossos semelhantes. Mas, ao mesmo tempo, esta diferença não superioriza ninguém, muito pelo contrário, só nos une. Somos "feitos" do mesmo material e tudo o que temos cá dentro é igual em todos os seres humanos. E é essa mensagem que é fundamental reter. A diferença é muito positiva, enriquece-nos! Temos que olhar para ela assim, procurando percebe-la e crescer! :)
    Somos todos iguais na diferença que nos une...

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  6. Tendo em conta o desenvolvimento do poema o seu tema e – uma condenação ao racismo , podemos facilmente supor que o referido choro estará a representar a tristeza que a mulher sentiu, ou sente ainda, por ter sido vítima de discriminação racial, com este poema, António Gedeão mostra se contra o racismo, demonstrando a estupidez e a falsidade que estão na base dos preconceitos.

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  7. Este é um dos meus poemas preferidos!

    "Nem sinais de negro/Nem vestígios de ódio" é a minha passagem preferida, pois demonstra perfeitamente como as pessoas são todas iguais, independentemente da cor ou raça.

    Num mundo repleto de liberdades, penso que o racismo deveria ser um assunto extinto e não um preconceito. Mas as pessoas orgulham-se de odiarem o outro! Este poema é um grito de revolta contra esse orgulho, esse perconceito que parece infinito!

    Todos nós somos iguais e merecemos ser tratados de igual forma, com respeito!

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