sábado, 17 de abril de 2010

Súplica


Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti, como de mim.
.
Perde-se a vida, a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz, seria
Matar a sede com água salgada.

Miguel Torga, in Câmara Ardente, 1962
.

11 comentários:

  1. Começo desde já por dar os parabéns a tal iniciativa.

    É de prezar o gosto pela poesia portuguesa e, logo de poetas que tanto nos deram sem nada pedirem em troca... Por isso mesmo, só tenho um conselho: tornem este blog, um blog ainda mais vosso! Mergulhem nas "ondas poéticas" e criem o vosso próprio "mar"...

    Cumprimentos para todos e continuem com os bons posts.

    ResponderEliminar
  2. Nem todos os amores são para sempre. Nem todas as juras de amor eterno são concretizáveis.Nem tudo foi feito para dar certo! O fim chega e tudo o resto parte...
    Por vezes, não é o amor que resta que nos faz sofrer terrivelmente, mas sim, a ausência de quem ocupava a nossa vida e o nosso coração. É a saudade que chega implacável para nos recordar daquele sorriso que nos aquecia a alma pela manhã ou daquele abraço aconchegante depois de um dia difícil. A verdade, pura e dura, é que algo falta na nossa rotina. Falta hoje e faltará nos dias, meses e anos que se seguirão.
    "Esquecer" e "seguir em frente" são palavras chaves. Os dias vão passando e o tempo cura tudo. Com a evolução do tempo, a calmaria instala-se na nossa vida. O sofrimento torna-se menos intenso ou adaptamo-nos a conviver com ele diariamente. É nesse período de calma que "ouvir de novo a |sua| voz, seria/Matar a sede com água salgada.".

    ResponderEliminar
  3. Este poema de Miguel Torga é dos mais bonitos que li até hoje. É mesmo verdade que nem todos os amores são para sempre e nem têm que o ser. Os amores vêm e vão, e assim vamos vivendo. Até chegar o amor, o verdadeiro, aquele que permanece connosco até ao fim dos dias (quando assim acontece), tem tempo para chegar e, pessoalmente, não tenho pressa que ele chegue. Enquanto isso, vou vivendo, procurando ser feliz em cada paragem… tentando encontrar em cada momento, razões para sorrir. Porém não é fácil e, tal como já disse, os amores vêm e vão, e nesse instante em que chegam e partem, é complicado olhar em frente. É quase inevitável não acreditar, em cada amor, que é para sempre… E é quando temos mesmo essa certeza, que dói. Dói muito, às vezes. É aí que precisamos de estar sozinhos, procurar a nossa “calmaria” e deixar o tempo tratar das feridas que vão doendo. Quanto ao resto, é acreditar… acreditar que a voz de um alguém não virá de novo e mudará a paz que se instalou.

    ResponderEliminar
  4. Finalmente, encontro um blog que vai certamente modificar a minha visão poética! Até agora apenas dois livros de poesia conseguiram ultrapassar as minhas prioridades, ao transformarem-se na minha única referência, provocando-me um crecente vácuo incomodativo. Mea culpa! Estes belos fragmentos, em que até o elemento masculino fala com tanta beleza e sensibilidade de AMOR e SAUDADE, fazem-me despertar!
    Continuem!
    Muito obrigada.

    ResponderEliminar
  5. Sem duvida alguma este poema de Miguel Torga é o poema mais belo do blog. Um poema muito expressivo e que nos transmite muito sentimento.Faz-nos pensar no amor e no quanto ele por vezes nos faz sofrer...

    ResponderEliminar
  6. Amei este poema...:)
    Ao lê-lo, pude sentir uma mistura de sentimentos inexplicáveis...
    É triste quando acreditamos que um amor é para sempre e, mais tarde, tudo acaba. Apenas restam as recordações.
    Como já foi dito, o tempo cura tudo. Cura a mágoa, a dor, a saudade. O importante é sermos felizes...

    ResponderEliminar
  7. Adorei o poema:)
    O que ele nos transmite é a pura verdade! Nem todos as promessas são eternas, nem o mais verdadeiro amor é eterno...por vezes é triste acreditarmos que o nosso primeiro amor é para sempre, porque na realidade não é...mas quando isso acontece só há uma coisa a fazer, é seguir com a nossa vida e tentarmos ser feliz da melhor forma!

    ResponderEliminar
  8. Amei este poema (:
    O amor é lindo, mas como tudo também tem um fim; esse fim nunca é desejado mas, obviamente, não podemos ter só aquilo que queremos!
    Ao ler este poema lembrei-me duma frase "Não tenho tudo aquilo que amo, mas amo tudo aquilo que tenho" - quando perdemos quem amamos , há sempre alguem que mereça o nosso carinho portanto temos é de ser FELIZES :)
    POEMA LINDO (:

    - Sara Pinto

    ResponderEliminar
  9. Adorei este poema, porque é maravilhoso e doloroso ao mesmo tempo. Relata o amor mas também o sofrimento que pode causar e isso é importante. Não existe só o lado belo da vida e por isso temos de estar conscientes do que poderá acontecer.


    Sara Soares

    ResponderEliminar
  10. Podia ler este poema milhares de vezes que jamais me cansaria, é LINDO, lindo! Já o comentei uma vez, mas sempre que leio volto a sentir um conjunto de sentimentos tão fortes que é impossível não (re)comentar!
    Miguel Torga no seu melhor.

    ResponderEliminar